Não é novidade que em vários países do mundo vão começar a existir aplicações que nos vão avisar se estivemos perto de alguém com o COVID-19, mas isso irá afetar a nossa privacidade?
Essa é uma pergunta que tem sido muito falada entre vários países e organizações, sendo que este tipo de medida contra o vírus é vista como uma violação de privacidade dos utilizadores. Por um lado, parece que sim, mas vários pontos mostram que a aplicação não será assim tão grave como a fazem parecer, como o exemplo mais simples, a opção de ter ou não a função ativa.
Recentemente foi realizado um webinar com a equipa de desenvolvimento da aplicação STAYAWAY Covid, o programa de rastreamento português, que está a ser desenvolvido entre algumas entidades de nome no país. Neste foi explicado como será o seu funcionamento e aquilo que podemos esperar da aplicação.
Como funciona a função de rastreamento do COVID-19?
Esta nova função vai funcionar de forma muito simples, utilizando o Bluetooth do smartphone para identificar pessoas que estejam próximas e com a mesma função ativa. Caso um utilizador infetado passe perto do equipamento, o mesmo vai detetar o código recebendo essas informações e alertando o utilizador.
Os dados partilhados não serão nada mais que códigos anónimos e impessoais, partilhados publicamente caso o utilizador esteja afetado com o COVID-19. Estes dados apenas serão partilhados com a devida autorização do utilizador e também com a legitimação por parte de um médico, confirmando a infeção.
As aplicações no smartphone vão periodicamente descarregar as atualizações de códigos mais recentes para que todas as informações estejam corretas com base na realidade. Se houver algum contacto próximo a aplicação vai alertar o seu utilizador indicando que deverá contactar os serviços de saúde.
Os meus dados serão privados?
Segundo José Manuel Mendoça, professor Catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e presidente do Conselho de Administração do INESC TEC, que coordenou todo o projeto da aplicação móvel, “Todos os códigos são anónimos, aleatórios e não anonimizados, não saem do telemóvel, só quando voluntariamente e com a certificação do médico os coloca na plataforma”.
O professor acrescenta ainda que os códigos serão eliminados após 14 dias e alvos de uma avaliação feita pela Comissão Nacional de Proteção de Dados e auditados pelo Centro Nacional de Cibersegurança.
Será que vai ajudar a evitar o contágio?
A aplicação de rastreamento do COVID-19 vai sem dúvida dar uma ajuda aos vários serviços de saúde e à população em geral, no entanto, não podemos esquecer o lado humano que é o mais importante.
Neste caso, utilizando a função de rastreamento, é possível ter durante alguns dias os vários utilizadores com quem nos cruzamos, o que por si só já vai ajudar as autoridades a identificar alguns possíveis casos de contágio.
Mas, “para que a eficácia se transforme em eficiência as pessoas têm de usar”, alerta Henrique Barros, que lidera o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, parceiro no desenvolvimento da plataforma. Esta aplicação para ter eficácia terá de ser utilizada por cerca de 60% da população, um número ainda elevado para um serviço tecnológico deste género.
A aplicação está ainda em desenvolvimento, demorando mais algumas semanas até estar pronta para funcionar em completo. Também as APIs desenvolvidas pela Google e Apple estão na sua primeira fase, sendo mais tarde atualizadas de modo a dar às várias entidades o melhor serviço possível.